Quantos risos, oh quantas alegrias
É noite do sábado de carnaval e estou voltando para casa. Pego
numa saudade alterei meu caminho costumeiro e passei pelas ruas do centro da cidade de Valinhos. O relógio do painel do carro marcava pouco mais que 21h. Desertas
ruas de gente, exceto um ou outro morador de beirais com seus caninos sambando
por um pedaço de pão e um gole de aguardente.
A passarela é
silêncio nesse tempo presente. Estacionei ali na Rua 21 de dezembro e vi por
dentro da memória o cordão carnavalesco que começava nessa rua e entrava pela 7 de
Setembro, depois contornando a esquerda e indo dispersar no final da Rua
Antônio Carlos.
Era menino naquela noite antiga, cansado sentei na guia da
calçada acomodei minhas costas num frondoso ipê amarelo que coloria aquela
velha noite. Meus pais conversavam animadamente com outros populares enquanto
esperavam a próxima agremiação. Aos poucos fui sendo surpreendido pelo sono e a
escola do samba já no batuque, Leão da Vila, sempre uma sensação. Conta meu pai
que o moço que tocava um "paulistão" parou bem na minha frente e
rebombando a avenida. E eu esperando a próxima escola nos meus sonhos.
(Foto Acervo Haroldo Pazzinato)
Crescido
continuei indo assistir o cordão e confesso que eles foram mágicos na minha
vida que viria pela frente. Do "Leão da Vila" guardo inúmeras lembranças e ouso
dizer, fundamentais na construção do meu futuro pensamento. Sambas que me
fizeram crescer quando entendi o sentimento de pertencimento: "ei padre
Ciço, ei papa Leão, eu sou da vila, hei São Sebastião".
Dentro de mim
surgiu o cidadão quando ouvi a crítica ao prefeito daqueles idos da nossa cidade quando ecoou pela passarela "das promessas não cumpridas, pra ter sua moradia demoram demais (quadra do
Leão)...". E eu voei rasante no sonho do sonhador "Santos Dumont
sua vida sua história..."
Era o conjunto, letra, melodia, alegoria, carros
alegóricos e a cada ano uma novidade. E a alma daquela escola estava no repique
da frigideira do Cascão.
Parado ali naquela
rua escura e vazia a vigilância noturna veio me surpreender, apresento os
documentos e respondo algumas perguntas tolas para quem esperava encontrar ali
um malandro planejando assaltar aquele imenso vazio: "Ria palhaço, meu
cidadão...ruge leão minha emoção".
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Gersio Pelegatti - professor da Historia nao aposentada
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